terça-feira, 27 de maio de 2014

Escrita Horizontal



Entre ambos ficou sempre um segredo que só os dois conheciam.
Nunca o deram a conhecer, nem sequer um ao outro.
Francisco tivera uma ou outra relação que só o extremo gozo da pele nua justifica.
Uma ou outra mulher que, por olharem a perdição na sua face de selvagem desgovernado, se deleitavam em tamanhos grandes de prazer continuado.
No extremo, incontroláveis e incontornáveis em clímax incontido, desfizeram-se em quantidades líquidas que foram muito além do que a humidade do orgasmo dá.
Uma sensação quente, volumosa e até incómoda na primeira vez que acontece.
Como ele era bravo nessas alturas!

Sentia muito para além disso.
Ao tocar-lhe a pele perfeita, macia, não lhe vinha a vontade indómita do animal faminto.
Gostava tanto das horas em que se ganhavam, de carícias leves, abraços fundos.
Temia, tremente, poder magoá-la.
Sabia-a tocada por experiências insuportáveis.
Penetrava-a com o olhar:

- E se só se dispõe a isto por saber que eu quero?

Entendeu que queria dar-se, que tinha vontade, uma condescendência que advinha da normalidade e do tempo certo em que a cama deve acontecer.

Na horizontal nunca foram o máximo um para o outro.

Porventura, como já se escreveu: " O amor mais profundo é o que nunca foi concretizado. Ao sê-lo torna-se mortal."

J. Orlando Rocha in CHATices

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